Retour Crianças agitadas, trajetórias turbulentas - Pesquisa comparativa

Uma rede internacional e multidisciplinar

Objetivos da rede

A rede “Crianças Agitadas, Trajetórias Turbulentas” é a continuação de um programa de pesquisa sobre trajetórias de crianças agitadas iniciado em 2013 pela equipe SAGE. Depois de investigar vários bairros parisienses, o programa desenvolveu uma comparação entre três regiões francesas (Paris, Norte, Sarthe). Agora está expandindo a comparação internacional, começando com workshops entre equipes de pesquisa do Brasil, Chile, Reino Unido e Suécia.

Dentro dessa rede de pesquisa multidisciplinar e internacional, estamos estudando, atualmente, como as crianças agitadas são tratadas e cuidadas na escola, em ambientes médicos e em ambientes familiares. A análise comparativa destacará as diferenças entre o que os cuidados oferecem, levando em consideração os contextos social, político e cultural.

Várias equipes do Brasil, Chile, França e Suécia aderiram ao grupo durante o workshop internacional realizado em Paris em janeiro de 2017. Em 2018, a rede conseguiu financiamento da IRESP, com dois objetivos: publicações colaborativas e um segundo workshop no Chile de 5 a 9 de novembro de 2018 .

Nosso objetivo é tornar as “Crianças Agitadas, Trajetórias Turbulentas” uma rede de pesquisa em ciências sociais de longo prazo, abordando os problemas de crianças agitadas com uma perspectiva comparativa entre a Europa e a América do Sul.

Cinco tópicos da pesquisa interdisciplinar

1 – Da hiperatividade aos problemas com atenção e agitação

Embora muitas pesquisas em ciências sociais considerem o diagnóstico de TDAH como um ponto de partida, nossa abordagem assume uma postura diferente: consideramos os problemas que surgem em situações sociais e tentamos entender como diferentes atores os levam em conta. Em um nível macrossociológico, as diferenças nos contextos nacionais induzem diferentes formas de lidar com essas questões. Por exemplo, no ambiente escolar no Chile, os atores enfatizam os problemas de atenção, enquanto na França os profissionais de saúde se concentram na agitação. Localmente, na família, na escola ou nos serviços de saúde, há grandes variações em como os problemas de concentração/atenção/agitação/impulsividade/agressividade/violência são considerados e definidos.

2 – Medicalização e desmedicalização

Vários estudos mostraram que tratar essas dificuldades com medicação levanta questões muito complexas. Este é particularmente o caso do uso de medicamentos à base de metilfenidato. Por um lado, o tratamento medicamentoso está longe de ser o único tratamento possível e pode ser complementado, contornado ou substituído por muitos outros. Por outro lado, diferentes formas de cuidado, além da prescrição de medicamentos, podem participar de um processo de medicalização. Terapias e/ou mudanças no relacionamento profissional-criança também podem transformar a vida cotidiana, bem como a visão do problema, tornando-o essencialmente médico.

3 – Afiliações e desigualdades sociais

Também emerge fortemente dos dados coletados que a afiliação social das famílias influencia fortemente as trajetórias educacionais e médicas de crianças agitadas. No entanto, os efeitos em termos de desigualdades sociais são muito difíceis de identificar. Em muitos casos, os diferentes caminhos ligados à afiliação social não podem ser simplificados em uma análise que classifica “vencedores” e “perdedores”. Uma nova estrutura analítica pode ser necessária, enquanto investigações e análises adicionais são requeridas para explorar essas relações.

4 – Agitação e gênero

As diferenças de gênero influenciam claramente os caminhos tanto da identificação de distúrbios patológicos quanto da prescrição, orientação ou gerenciamento dos cuidados. Aqui, novamente, a existência de elementos diversos e que ocupam um mesmo contexto tornam a análise mais complexa: as meninas são menos diagnosticadas que os meninos e, as que recebem um diagnóstico, são geralmente descritas como tendo problemas de atenção, e não de agitação, esses problemas sendo menos relacionados a problemas escolares. No Chile, as mulheres comumente naturalizam seu diagnóstico de TDAH, enquanto os homens tendem a pensar em termos de diferenças potencialmente criativas. O que pode ser dito sobre a construção dessas diferenças? É uma questão de percepção ou de diferenças objetivas no comportamento? Como os processos de socialização e respostas diferenciais interagem?

5 – Famílias e profissionais

Nosso último eixo de reflexão diz respeito ao modo como as relações são forjadas e desenvolvidas entre as famílias e os vários profissionais que elas encontram nas áreas de educação, saúde e assistência social. Aqui, novamente, diferenças estruturais entre contextos nacionais são essenciais. Além de entender essas diferenças e, mais especificamente, como os profissionais estão estruturados em instituições, buscamos compreender como famílias e profissionais se engajam em parcerias e colaborações. Enquanto a injunção para co-construir com os pais varia nos diferentes contextos, vale a pena entender como algumas famílias realmente se tornam parceiras, enquanto outras continuam agindo como pacientes e esperam ser cuidadas.

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